A menina motorizada

Já faz uns 14 anos, pelo menos, que eu conheço a maioria das amigas que tenho hoje.
Lembro da cara, do jeito e das atitudes de cada uma delas quando tínhamos essa idade, 14 anos. Entre taaaaaaantas coisas que aconteciam naquele tempo em que nossa única preocupação na vida era escolher a roupa para ir ao baile, e os telefones de Caçapava ainda começavam com 732, lembro que uma coisa me chamou muito a atenção.
Lá pela terceira ou quarta vez que eu estava convivendo com aquelas gurias - todas do interior, todas se conhecendo desde que nasceram -, uma delas chegou de carro pra nos pegar e dar uma volta.
Como assim? Nós só tínhamos 14 anos, não era permitido dirigir!
Conforme eu vim a saber depois, assim como para tantas outras coisas, a surpresa era só minha. Pessoas dirigindo sem carteira, a falta do pisca-pisca e o uso de apenas uma mão no volante (porque a outra tá sempre de pé abanando pra alguém) são coisas pra lá de comuns em Caçapava, isso pra citar só as coisas relativas ao trânsito.
Pois bem. Uma mocinha muito linda, 1,54m de altura, voando as tranças num passat velho (era passat? será que não era voyage?). Ela mal alcançava os pés nos pedais, mas manejava a direção como se já tivesse nascido sabendo fazer aquilo.
Foi essa imagem que me veio à cabeça quando vi a Jô dias atrás. Lá estava ela, as mãozinhas são as mesmas delicadas, o cabelo não é mais igual e agora ela pilota um carrinho de bebê. Não sei se ela já tem a habilitação oficial para a coisa, mas hoje, aos 28 anos e mãe, ela me parece tão capaz e eficiente quanto aquela menina que dirigia aos 14.